segunda-feira, 9 de julho de 2007

DIAMANTINO....Mangalarga Puro-sangue/cana

Certa noite, em um dos intervalos musicais do BJ, se aproxima o Guilherme (Gui). Meu amigo de infância, nos distanciamos, e reencontramos.

O Gui era uma figurinha à parte, oportunamente faço uma descrição deste palhaço.

Pois bem, chegou o Gui, "acima do teto", coisa que naquelas alturas eu também estava atingindo o seu patamar, e me oferece um cavalo... Aquele que semanalmente amarrava na corda na porta do BJ.

Bem, um cavalo??? O que fazer com um cavalo se eu morava em apartamento, só tinha uma garagem... "Mas estou falando de um puro-sangue... Com pedigree, Grande Campeão da Raça".

Céus, e o Gui andando noite adentro com uma pérola destas??? "Cetá maluco???"

Bom, conversa vai, cerveja vem, conversa vai, cerveja bem... Em dado momento o Gui tirou do bolso da calça um papel amarelado, todo dobradinho e me mostrou.. "Olha, vou te mostrar uma coisa, "zegredo, zuzo bem?" "Zim" respondi...

E ele desdobrou cuidadosamente aquele pergaminho e me mostrou seu conteúdo...

"Diamantino do Horizonte", manga larga paulista, idade 6 anos, etc...

Rapaz!!!! Não é que o meu amigo tem o RG do "equinus"???

Nesse momento, não sei o que me deu na cabeça, mas o fato é que estava interessado em saber mais do Diamantino. Desci as escadas, apoiando meu amigo (ele tem paralisia infantil, e uma perna problemática) e fomos olhar o cavalo.

Me mostra os dentes, a crina, o céu da boca, o saco, patas... tudo na mais perfeita ordem e eu, "entendendo tudo"... Só faltou afirmar que tinha baixa quilometragem.

E o Gui (FDP) me convenceu!!!! Fechamos negócio às 3 e pouco da manhã, e eu ainda por tocar mais uma seleção de banjo no palco.

Marcamos para receber o cavalo as 9h do dia seguinte num local não muito perto, e portanto eu teria que ir à pé pois fechei um excelente negócio - o cavalo vinha com as "traias" - sela, bridão, essas coisas.

No caminho, comecei a atinar sobre o que estava acontecendo, e me apavorei... Onde colocar o cavalo? Já sei!!! No sítio de um dos tios - o mais perto. Ufa... resolvido...

Cheguei no local combinado, o Gui estava com o Diamantino todo lustroso... passou óleo de bebê no dito cujo.. Eis a preciosidade que adquiriu...

Meus Deus... Diamantino tinha de quatro, 1,90m... (1,20 só de pernas) e eu de dois, 1,70... Um problema para montar.

Recebi o cavalo, e o Gui estava com pressa - queria dormir.. e se mandou. Encostei o dócil animal perto de um muro, e montei.. Que emoção!!!!

Upa cavalinho.... nada... Upa-upa alasão.... nada... Que merda... Anda cavalo... nada... Bem, nesse momento pensei, ele esta na calçada e deve ser por isso que não quer andar (sabe como são esses puros-sangue temperamentais....).

Desci da calçada e com muito esforço e desajeitado consegui montar meu alasão... Me senti na "Terra de Marlboro"... chapéu na cabeça, bota de barretos, e em cima de um cavalão daqueles...

Enfim, o Diamantino andou... "toc, toc, toc, toc"... Caramba, não entra a segunda nem a pau... e apertava, falava, beijava como os carroceiros fazem, e nada... "toc-toc-toc-toc".... Acho que está cansado, afinal andou a noite toda com aquele desalmado, vamos em frente..

Andamos uns 200 metros... o Diamantino parou na porta de uma garagem - aquelas portas de aço, de correr... pois bem... parou bem pertinho, altivo, orelhas atentas, patas traseiras um pouco afastadas, pose de campeão...

Vamos Diamantinho... nada... Anda....nada... Upa cavalinho... nada. Lembrei da calçada inicial - "Deve estar respeitando a calçada, pois subira nela.." Apeei do Diamantinho, puxei-o até a rua e com aquele esforço descrito anteriormente, montei novamente... E o Diamantino andou... (ufa)

Na cadência deste "lorde", andamos mais uns 400 metros e a cena se repete: parou na porta de outra garagem. Caramba, deve estar cansado, e confunde sua baia com estas portas. Fazer o quê... em alguns quilometros teria seu merecido descanso.. Me restou descer, puxar, montar e "toc-toc-toc-toc"...

Enfim, atravessei o centro da cidade, parando a cada 50 metros e puxando, montando... Isso não ia ficar assim... Comecei a recobrar minha serenidade, sobriedade, e raciocinar o que tinha acontecido... Um burro comprou um cavalo!!!!

Revoltado com a situação, era um sabado de manhã, comércio abrindo, um movimento danado e eu com o meu pangaré puxado pelas rédeas...

Preciso falar com aquele #*&@!!! E naquela época não existia o bendito celular. Enfim, consegui um telefone de um amigo que sabia o telefone de outro amigo que podia saber o telefonde do Gui.

Depois de uma hora aproximadamente consegui falar com meu "amigo"... "Vem buscar essa merda aqui!!!" Em meia hora eu chego!

Resignado, esperei.... eram 9;30 quando liguei e o meu amigo apareceu 12;00.

"O que está acontecendo?" - "Esse cavalo não anda" Vamos ver...

E não é que o Gui montou o cavalo (com 1,5 perna - pois tem paralisia em uma) e saiu trotando com aquele FDP???

Eu expliquei o que acontecia com as garagens... e ele me disse inocentemente:

"Sabe o que é, ele pensa que vai parar num boteco.. e já se ajeita para esperar você voltar e ir para outro". Só isso...

O Diamantino voltou feliz da vida com o seu antigo dono, e eu voltei de novo à pé!!!

Nunca mais!!!!

Guilherme é um grande amigo, saudades de nossas "artes".